MORTE CLÍNICA EM BRASÍLIA
O STF, junto com as facções da esquerda, deu um golpe de Estado em 2022, mas a partir disso não formou um governo. O resultado foi a desordem que está aí
POR J. R. Guzzo
O Brasil, como esta revista vem mostrando há anos em suas páginas, é hoje um país sem governo. Não existe mais um Estado, com regras, deveres e responsabilidades. Não há, no mundo das realidades concretas, nada que se pareça com uma Constituição — tal como as constituições são entendidas nos países sérios. As instituições foram abolidas. O Congresso é apenas uma biqueira controlada por escroques e capatazes do STF. O Judiciário é uma junta de republiqueta bananeira. O Executivo tornou-se uma versão brasileira de narcoestado — é hoje um ladroestado dirigido por malfeitores.
A questão que se coloca, agora, não é saber se o Lula 3 é o pior governo que o Brasil já teve nos últimos 500 anos, abaixo até de Dilma Rousseff. É matéria já resolvida neste tribunal, diria o STF — é pior, sim, por mais deprimente que isso pareça. E é pior porque simplesmente não governa, mas se ocupa há dois anos e meio na tarefa única de saquear o Tesouro Nacional — como esses bandos que saqueiam supermercados na esperança de roubar o máximo possível antes que a polícia chegue. A pergunta real é: quanto tempo eles vão aguentar nessa vida? Ou: a polícia vai mesmo chegar um dia? E se chegar — quando será?
O governo Lula, em termos de administração pública, é isto: um grande Complexo do Alemão onde a única lei que realmente vale é a lei do mais forte, ou de quem rouba mais.
Só existe uma resposta decente para isso, na vida como ela é: hoje ninguém sabe, realmente, de que lado da rede vai cair essa bola. É certeza líquida e certa que a leitura dos analistas políticos que aparecem na mídia não vai ajudar em nada; é como perguntar “o que está acontecendo em Brasília?” para o porteiro do prédio. O que temos aí é uma situação inédita na história nacional: o STF, junto com as facções da esquerda, deu um golpe de Estado em 2022, mas a partir disso não formou um governo. O resultado foi a desordem que está aí. Ninguém viu isso antes.
O STF, com a ajuda da polícia e do Exército, se livrou de Bolsonaro e do combate à corrupção pela Lava Jato — ou pelo menos achou que ia se livrar, pois não conseguiram acabar o serviço e estão atrás dele até hoje. Mas não montaram um governo de verdade, e ditaduras que não governam começam a caminhar rumo à dispersão na Praça da Apoteose. O STF entregou a máquina a Lula, ao PT e aos “movimentos sociais” — o resto, como se está vendo, é história. O presidente escolheu provavelmente o pior Ministério do mundo no século 21 (veja artigo de Augusto Nunes), ou engoliu com casca e tudo os nomes que suas gangues lhe jogaram em cima. A partir daí, Lula dedicou-se a não governar.
Terreno baldio, rua sem luz e cheiro forte de dinheiro grosso por perto, como poderia dizer qualquer guarda-noturno, são tudo o que um bom ladrão pede a Deus — sobretudo quando ele tem certeza de que, se for pego, vai ser solto, condecorado e talvez indenizado pela “suprema corte” em pessoa. Teria, matematicamente, de dar no que deu e que você vê todos os dias no noticiário político-policial. Lembra-se do filme Born to Be Free, que fez sucesso anos atrás? Então: um filme do terceiro governo de Lula com certeza poderia se chamar Born to Steal, ou Nascido para Roubar. É coisa da natureza. Saíram roubando antes mesmo do dia da posse, não pararam de roubar até hoje, na base de um roubo por dia (veja matéria de Silvio Navarro), e dão a impressão de não terem um Plano Dois.
Quando a autoridade do Estado desaparece e é substituída pela autoridade do crime, o que se tem é uma espécie desse Rio de Janeiro do prefeito Eduardo Paes — onde todo um território geográfico foi anexado pelos bandidos que comandam o tráfico de drogas e excluído do sistema legal brasileiro. É muita Lady Gaga, muita Rede Globo, muito funk — e nenhum direito para o cidadão, a começar pelo direito à vida. O governo Lula, em termos de administração pública, é isto: um grande Complexo do Alemão onde a única lei que realmente vale é a lei do mais forte, ou de quem rouba mais.
O que temos, para resumir essa ópera, é uma Batalha de Borodino descrita por Tolstói. A fumaça e o barulho são tão grandes que ninguém consegue enxergar nem ouvir mais nada. Ninguém sabe se está atirando no inimigo ou em si mesmo. Os oficiais não sabem se os soldados estão escutando, e muito menos cumprindo, as ordens que dão. A certa altura, franceses e russos têm certeza de que ganharam, cada um do seu lado. No momento seguinte, ambos têm certeza de que perderam. A cena política do Brasil de hoje é essa desordem. O STF manda, mas não governa. O governo não manda nem governa — só rouba. Câmara e Senado são dirigidos por gangues partidárias que não têm votos, não têm ideias e não têm vergonha; seus presidentes, num país de 200 milhões de habitantes e PIB de US$ 2 trilhões, vêm da Paraíba e do Amapá, onde não há gente, nem trabalho e nem produção.
Neste momento, precisamente, o caos criado pelo consórcio STF-Lula parece mais do que nunca uma fratura exposta com sangria desatada — enquanto os dois, mais as mesas do Congresso, passam ao largo sem dar a mínima para os feridos. O ausente mais agressivo é o governo Lula. Há um terremoto destruindo a Previdência Social, que parece ter sido eleita pela ladroagem lulista (incluindo-se o próprio irmão do presidente da República entre os suspeitos), como área preferencial de seu assalto ao Erário. É o escândalo mais cruel do Lula 3 — o roubo direto do dinheiro dos aposentados do INSS, em especial os mais pobres e com menos possibilidade de se defender. E o que faz Lula, num momento em que deveria estar dando hora extra no gabinete para cuidar do estrago? Foge da raia e vai puxar saco de comunista na Rússia e no Vietnã.
Está mais claro do que nunca que o governo Lula virou um manual de como não governar um país. O sintoma mais óbvio desse teatro de chanchada é que o presidente não consegue fazer mais nada que seja neutro — só consegue fazer o errado, e aí vai virando os Três Patetas juntos, ao mesmo tempo. Sua fuga para a Rússia, por exemplo. O que mais se falou nem foi da viagem em si, mas da ida de Janja para lá três dias antes, num avião da FAB só para ela e o seu esquadrão de aspones — para ver o Balé Bolshoi, obrigação turística de todo jeca que vira rico, ir a um museu que não entende e provocar risadinhas escondidas dos anfitriões com a exibição explícita do seu semianalfabetismo de pai e mãe. Quer dizer: só piora.
No roubo do INSS, Lula levou um século para demitir o ministro Carlos Lupi, o responsável pela calamidade; quando enfim pôs o homem na rua, nomeou em seu lugar um sub-Lupi que é cara do modelo original. Mal se sai desse choque e se cai de cabeça em outro na mesma área — a dos sinistros “empréstimos consignados” da Previdência, mais uma realização para “os pobres” que, quando se vai ver, é estelionato serial. Numa hora em que a sua preciosa “popularidade” está na bacia das almas, Lula vai e traz para o Brasil uma ladra peruana comprada e vendida pela Odebrecht, condenada em juízo no Peru e fugitiva da polícia local. “Asilo político”, diz o governo brasileiro — e lá vai a FAB buscar a figura (de novo a FAB — que fase). Lula diz que os Estados Unidos estão violando a “soberania brasileira” por negarem visto no passaporte de um cidadão que se chama Felipe, mas quer ser chamado de Érica.
É essa a lista de realizações de dois anos e meio de governo Lula — ou melhor, parte da lista, pois a coisa vai longe e é tudo mais do mesmo. Quem, com um mínimo de bom senso, pode acreditar que um governo que não realizou nada até agora mude de repente e comece a entregar obras sem parar no ano e meio que lhe resta? Esse governo em estado de morte clínica já nem consegue mentir direito; parece ter desanimado de prometer coisas que não tem a menor intenção, ou meios, de entregar. Na falta de assunto, Lula fica falando de Palestina, de defesa dos transgêneros e de “golpe do 8 de janeiro”. Denuncia o “perigo” das noções de Deus, pátria e família. Acha que a China está louca para pôr o Brasil no lugar do Estados Unidos como o seu grande parceiro comercial. Anda por aí como um cabide de looks escolhidos pela mulher, inclusive um chapéu Panamá — e por aí se vai.
Não se fala mais de Haddad. Não se fala mais de arcabouço fiscal, de “Faria Lima” e de Banco Central. Não se fala mais de sabotagem da taxa de juro, nem de Roberto Campos — mesmo porque os juros estão a 14,75%, coisa só atingida antes pelo governo Dilma. Não se fala mais em leilão de arroz para distribuição a “preço justo”, nem em queimada na Amazônia, e nem em passagem baratinha de avião, de casinha com varanda, de carrinho para o pobre. Ninguém, nem na mídia chapa-branca, se anima a falar das obras do “novo PAC”, nem dos bilhões que elas trariam em investimentos. Não se sabe de um único dólar realmente investido no Brasil depois de R$ 4,6 bilhões torrados nos dois primeiros anos de governo Lula em viagens ao exterior — feito que vai entrar na história universal da roubalheira de terno e gravata. Onde anda o gasoduto de Vaca Muerta — a primeira obra monumental anunciada ao mundo pelo presidente?
Nem o governo parece acreditar mais que seja possível tirar alguma coisa de útil dessa usina de ruínas que ele próprio criou. Que futuro pode ter em qualquer eleição limpa daqui a um ano e pouco? Lula não pode sair à rua nem para entregar casas populares — o presidente dos “trabalhadores” não teve coragem, sequer, para comemorar o último Dia do Trabalhador em público, depois do humilhante fiasco que viveu no Primeiro de Maio do ano passado em São Paulo. Não vão parar de roubar; talvez nem consigam, mesmo tentando. Sempre há a possibilidade, quando se está no governo, de chutar a barraca e dobrar a atual falência do Tesouro Nacional na compra de voto com Bolsa Família, ou onde der — mas isso não é garantido, e talvez não seja executável. Tudo o que sobra a Lula, ao PT e à esquerda, salvo alguma ideia que ainda não apareceu, é Alexandre de Moraes.
Não é bem o Supremo. É Alexandre de Moraes. Ele, sozinho, vale mais que os dez outros somados, as três Forças Armadas juntas e Lula mais os seus 40 ministros — por ter a coragem que falta a todos eles, e porque sabe melhor que ninguém como administrar o medo no Brasil de hoje. Quanto a esses Alcolumbres e Mottas, então, não é preciso dizer nada — o único risco é matarem o ministro de rir. É a isso que estão reduzidas hoje todas as esperanças de Lula, Janja e o resto para continuarem na vida que levam — quem sabe numa Cuba ou Venezuela brasileiras, com um pouco de pó de arroz recivilizado, ou qualquer tipo de regime que exclua a vontade da maioria. É esse, no fundo, o grande inimigo a eliminar. “Toca a bola para o Xandão”, dizem todos — e seja o que Deus quiser.