SAIU NO 'O GLOBO' Fraude bilionária no INSS: PF aponta envolvimento de parlamentares
A apuração foi encaminhada ao STF
As investigações da Polícia Federal sobre o esquema de descontos indevidos em aposentadorias e pensões do INSS chegaram ao Supremo Tribunal Federal (STF) após surgirem indícios da participação de deputados federais e senadores no caso.
Trata-se de um desdobramento da Operação Sem Desconto, que apura uma fraude estimada em R$ 6,5 bilhões e já identificou 7,6 milhões de beneficiários lesados.
Com o envolvimento de integrantes do Congresso Nacional, a apuração foi encaminhada ao STF, foro competente para julgar parlamentares federais.
Conforme revelou o jornalista Lauro Jardim, do jornal O Globo, o número de congressistas citados nos documentos é grande— o que sugere um elo direto entre o esquema e setores do Legislativo.
Segundo fontes próximas às investigações, os nomes de deputados e senadores surgiram a partir da análise de contratos, movimentações financeiras e relações institucionais entre entidades de fachada e a estrutura pública federal. Essas associações — 11 já identificadas — operavam como intermediárias dos descontos mensais que, segundo a Controladoria-Geral da União (CGU), ocorriam muitas vezes sem autorização dos aposentados.
O uso de sindicatos e associações para viabilizar os repasses mensais irregularmente configura um modelo de captação contínua de recursos à margem da legalidade, com indícios de que parte desses valores teria sido canalizada para alimentar redes de apoio político. Os investigadores agora buscam entender se os parlamentares teriam atuado para facilitar contratos, blindar entidades suspeitas ou participar diretamente do repasse de verbas.
A dimensão da fraude impressiona: cerca de 98% dos aposentados e pensionistas do INSS teriam sido vítimas de descontos indevidos em algum momento, segundo levantamento da CGU. Foram mais de 1,2 milhão de reclamações formais de beneficiários entre 2019 e 2024, com estimativas de prejuízo que ultrapassam os R$ 6 bilhões.
A ida do caso ao STF adiciona um novo grau de complexidade à investigação. A Suprema Corte deverá avaliar, a partir dos documentos da Polícia Federal, se há elementos suficientes para instaurar inquéritos contra congressistas. Os nomes dos parlamentares citados ainda não foram oficialmente divulgados, mas a expectativa é de que novos detalhes venham à tona nas próximas semanas.
Enquanto isso, o governo Lula corre para conter o desgaste político. O presidente do INSS, Gilberto Waller Júnior, afirmou que os valores serão devolvidos aos segurados lesados e que o órgão trabalha com a CGU para definir critérios de ressarcimento. A operação de reembolso, no entanto, ainda enfrenta desafios técnicos e orçamentários.
No Congresso, o clima é de apreensão. Parlamentares da oposição pedem o avanço das investigações e a abertura de uma CPI do INSS, enquanto aliados do governo Lula evitam declarações públicas.