CONCLAVE - PODE SER ASIÁTICO OU AFRICANO
Dom Odilo Scherer diz que novo papa pode ser africano ou asiático
Após a morte do papa Francisco, o arcebispo de São Paulo, cardeal dom Odilo Scherer, afirmou nesta segunda-feira (21) que a Igreja Católica vive um processo contínuo de internacionalização e que, diante disso, “ninguém deveria se surpreender” se o próximo papa for africano ou asiático — algo inédito na história da instituição.
Membro do conclave que elegeu Francisco em 2013, Odilo Scherer foi um dos nomes cotados para suceder Bento XVI à época.
Agora, 12 anos depois, ele voltará ao Vaticano para participar do novo conclave que definirá o sucessor de Jorge Mario Bergoglio, o primeiro papa latino-americano da história.
Scherer embarca para Roma na manhã desta terça-feira (22) e deve se reunir com outros cardeais brasileiros.
Em sua fala, o cardeal destacou que o colégio de cardeais — responsável por eleger o novo pontífice — está “muito mais internacionalizado do que antes”. Segundo ele, essa transformação começou nos anos 1950 e se acentuou especialmente nos últimos três pontificados.
“O colégio dos cardeais era, sobretudo, italiano e europeu, depois foi abrindo mais e mais. Papa João Paulo II já escolheu muitos cardeais da América, da América Latina, alguns da África e Ásia. Depois, papa Bento XVI também continuou nessa abertura e o papa Francisco ainda mais, de modo que hoje o colégio de cardeais realmente é muito menos italiano, muito menos europeu.”
De acordo com dom Odilo, a maioria dos cardeais hoje é de fora da Europa, com forte presença da América Latina, América do Norte, África e Ásia. Esse novo perfil pode influenciar diretamente a escolha do próximo papa, marcando mais um passo na direção de uma Igreja global.
Além de comentar as expectativas sobre o futuro, dom Odilo Scherer também destacou o legado de Francisco, elogiando sua postura pastoral e seu compromisso com a renovação da Igreja. Um dos pontos ressaltados pelo arcebispo foi a firmeza com que Francisco lidou com os escândalos de abuso sexual envolvendo membros do clero:
“Teve a coragem de enfrentar uma chaga moral muito dolorosa da Igreja. Procurou corrigir com firmeza e clareza os desvios e exigir mais responsabilidade.”
A fala de dom Odilo ecoa o sentimento de muitos dentro da Igreja que veem o pontificado de Francisco como uma ponte entre tradição e modernidade, marcado por um esforço em tornar a Igreja mais próxima dos pobres, mais aberta ao diálogo inter-religioso e mais ativa em pautas sociais e ambientais.
Com o início da sé vacante, o mundo católico volta seus olhos para Roma. Nos próximos dias, os cardeais eleitores se reunirão para o funeral de Francisco e, posteriormente, para o conclave que escolherá o novo papa. O cenário está aberto — e, pela primeira vez, o próximo líder da Igreja pode vir de um continente ainda inédito no papado.