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E chega Leão XIV

FUMAÇA BRANCA, E NOVO LÍDER DA IGREJA CATÓLICA EM SUA 1ª HOMILIA

Papa Leão XIV: 'O Senhor me chamou para carregar essa cruz'

Por Fonte - Band

09/05/2025 - 10:40

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Após ser eleito novo líder da Igreja Católica, pontífice celebrou a primeira missa com os cardeais

No dia seguinte à eleição e nomeação como Papa, Leão XIV voltou nesta manhã de sexta-feira (9) para presidir a primeira missa como líder da Igreja Católica com todos os cardeais. Na homilia, ele fez uma saudação em inglês aos membros do Colégio Cardinalício e falou do trabalho de levar o Evangelho a frente. 

"Cantarei um cântico novo ao Senhor, porque ele fez maravilhas”, começou. Ele fez a homilia diferente do discurso após ser eleito Papa, em que falou em espanhol e italiano. Desta vez, ele falou em inglês e italiano. Confira abaixo a homilia completa do Papa Leão XIV:


"Vou começar em inglês e o restante é em italiano, mas eu quero repetir as palavras do salmo: ‘Cantai ao Senhor um cântico novo, porque fez maravilhas’. E de fato, não só comigo, mas com todos nós, meus irmãos cardeais. Eu convido vocês a celebrar as maravilhas que Ele fez, as bênçãos que Deus continua a derramar sobre nós.

Para o ministério de Pedro, vocês me chamaram para carregar essa cruz e me abençoaram com essa missão. E convido todos a caminharem comigo, como Igreja, como comunidade dos discípulos de Cristo para anunciarem o Evangelho. 

‘Tu és o Cristo o filho do Deus vivo’, com estas palavras, Pedro, interrogado pelo mestre, juntamente com os outros discípulos sobre a sua fé nele, expressa o tesouro que a igreja, através da sua sucessão apostólica, transmite ao longo dos 2 mil anos. 

Jesus é o Cristo, o filho do Deus vivo, isto é, o único salvador e revelador da face do pai. Nele, Deus para se fazer próximo e acessível aos homens revelou-se a nós no olhar confiante de uma criança, na mente viva de um jovem e nos traços maduros de um homem até aparecer aos seus depois da Ressurreição com o seu corpo glorioso.

Ele nos mostrou, assim, um modelo de humanidade santa, que todos podemos imitar, juntamente com a promessa de um destino eterno que ultrapassa todos os nossos limites e capacidades. Pedro, na sua resposta, compreende ambas as coisas. O dom de Deus e o caminho a percorrer para se deixar transformar. 

Dimensões inseparáveis da salvação, confiadas à Igreja para que ela anuncie para o bem da humanidade. Confiai-nos a nós, escolhidos por ele antes de sermos formados no ventre materno, regenerados nas águas do batismo e apesar dos nossos limites e sem o nosso mérito, conduzidos até aqui e daqui enviados para que o Evangelho seja anunciado a toda a criatura. 

E Deus, em modo particular, chamando-me através do vosso voto, para suceder ao primeiro dos apóstolos, confia-me este tesouro para que, com sua ajuda, eu seja o seu fiel administrador em benefício de todo o corpo místico da Igreja, para que seja cada vez mais uma cidade edificada sobre o monte, uma arca de salvação que navega nas ondas da história, um farol que ilumina as noites do mundo. 

E isto não se deve tanto à magnificência das suas estruturas, ou pela grandeza das dos seus edifícios, como os monumentos em que encontramos, mas, sim, à santidade dos seus membros, daquele povo que Deus adquiriu para si, para que proclame as maravilhas daquele que Vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz.

No entanto, no diálogo que Pedro faz em sua profissão de fé, também há uma outra questão. Pergunta Jesus: ‘Quem dizem eles que é o filho do homem?’. Essa não é uma questão banal, mas diz respeito a um aspecto importante do nosso ministério: a realidade em que vivemos com os seus limites e as suas potencialidades, as suas questões e suas crenças. 

Quem dizem as pessoas que é o filho do homem? Pensando na cena sobre a qual estamos a refletir, poderíamos encontrar duas possíveis respostas para esta pergunta que delineiam duas atitudes diferentes: em primeiro lugar, a resposta do mundo. 

Mateus enfatiza que a conversa entre Jesus e seus seguidores sobre a sua identidade acontece na bela cidade de Cesareia de Filipe, repleta de edifícios luxuosos, situada em um cenário natural e encantador aos pés do Monte Hérmon, mas também lar de círculos cruéis de poder, cenário de traição e infidelidade. 

Essa imagem nos fala de um mundo que considera Jesus uma pessoa sem importância nenhuma, no máximo um personagem curioso que pode causar admiração do seu modo estranho de falar e de agir. E assim, quando a sua presença se torna incômoda devido às suas exigências morais e honestidade, esse mundo não hesitará em rejeitá-lo e eliminá-lo.

Depois, há uma outra possível resposta à pergunta de Jesus: a das pessoas comuns. Para elas, o nazareno não é um charlatão, é um homem justo, corajoso, que fala bem e que diz coisas certas como outros grandes profetas da história de Israel. 

É por isso que eles o seguem, pelo menos enquanto podem fazê-lo, sem muitos riscos e conveniências. Mas eles o consideram apenas um homem e, portanto, num momento de perigo, durante a Paixão, eles também o abandonam, e vão embora desiludidos. O que chama atenção nessas duas atitudes é a sua atualidade. 

Elas são encontradas na boca de muitos homens e mulheres do nosso tempo. Também hoje existem muitos contextos em que a fé cristã é considerada algo absurdo, algo para pessoas fracas e pouco inteligentes, contextos em que outras certezas são preferidas a ela, como a tecnologia, o dinheiro, o sucesso, o poder, o prazer. 

Esses são ambientes nos quais não é fácil testemunhar e proclamar o Evangelho e um daqueles que creem e acreditam são ridicularizados, combatidos, desprezados, ou ao máximo tolerados e lastimados, mas precisamente por isso são lugares onde a missão é urgente, porque a falta de fé muitas vezes traz consigo tragédias, como a perda do sentido da vida, o esquecimento da misericórdia, a violação da dignidade da pessoa nas formas mais dramáticas, a crise da família e muitas outras feridas das quais sofrem - e não pouco - a nossa sociedade.

Embora apreciado como homem, [Jesus] é reduzido a apenas um líder carismático, a um super-homem, isso não só entre os crentes, mas também entre muitos batizados, que assim acabam vivendo em um enteísmo do fato. Este é um mundo cujo é confiado, como o papa Francisco nos ensinou muitas vezes, somos chamados a testemunhar a fé em Jesus, o salvador, de forma alegre. Por isso, também pra nós é essencial repetir: ‘Tu és o Cristo, filho do Deus vivo’.

É essencial fazer isso antes demais na nossa relação com Deus, no compromisso de um caminho diário de conversão. Mas também como Igreja, vivendo juntos a nossa pertença ao senhor e levando a boa nova a todos. Digo isto, antes demais, a mim mesmo, como sucessor de Pedro, ao iniciar a minha missão de bispo da Igreja em Roma, chamado a presidir na caridade a Igreja universal, segundo a célebre expressão de Santo Inácio de Antioquia. 

Ele, levado acorrentado a esta cidade, lugar do seu iminente sacrifício, escreveu aos cristãos que lá estavam: ‘Então serei verdadeiramente discípulo de Jesus Cristo quando o mundo deixar de ver o meu corpo’. Ele se referia à possibilidade de ser devorado pelas feras no circo, e assim aconteceu, mas as suas palavras evocam, em sentido lato, um compromisso indispensável para que na Igreja exerça um ministério de autoridade.

Desaparecer, para que Cristo permaneça. Fazer-se pequeno, para que ele seja conhecido e glorificado. Gastar-se completamente, para que ninguém perca oportunidade de o conhecer e o amar. Que Deus me conceda esta graça hoje e sempre essa graça, hoje e sempre, com a ajuda da terna intercessão de Maria, mãe da Igreja.

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Foto - Papa Leão XIV durante primeira missaVatican Media/Simone Risoluti/Reuters