O povo de São Félix do Xingu, no pará, saudou com muita ansiedade, e esperança renovada à comitiva da CPI das ONGs, que nesta quarta, 29, aportou no Interior para uma diligência na região, onde a missão tem sido ouvir a população da Vila Renascer, em Apyterewa, que segundo relatos dos senadores vive um verdadeiro cenário de guerra com a expulsão de moradores de suas terras.
Logo na chegada, uma multidão pediu socorro aos parlamentares.
“Viemos dizer que não estão sós. Nós estamos ao lado de vocês. Não viemos comandar, vivemos para somar a esse exército de injustiçados”, afirmou o prsidente da CpI, senador Plínio Valério. Com ele, na comitiva, presentes o relator da CPI, senador Márcio Bittar (-AC); o vice-presidente da CPI, senador Jaime Bagatolli (-RO); o senador Zequinha Marinho (-PA); o senador Hamilton Mourão (-RS) e o senador Styvenson Valentim (-RN).
Um dos pedidos do povo de São Félix do Xingu é a revisão do laudo antropológico de Apyterewa.
Um laudo antropológico que resultou na retirada de 3 mil pessoas da região.
Certo que tal laudo foi produzido para atender aos interesses de ONGs e órgãos internacionais, o senador Plínio Valério ouviu os depoentes relataram violência, repressão, abandono de animais, derrubada de casas e abusos psicológicos praticados nas ações de desobstrução.
Na reunião, que reuniu quase mil moradores no Salão Paroquial de São Félix do Xingu, colonos e indígenas disseram que é possível dividir a região para viverem em conjunto. “Não somos bandidos. Estamos aqui na região há mais de 30 anos”, afirmaram moradores.
Um dos relatos mais comoventes da reunião foi o da moradora Marcilene Frutuoso Oliveira, que clamou por justiça após perder sua casa e todos os seus pertences.
“Olho para a minha bandeira e vejo escrito ‘ordem e progresso’. Eu preciso ver a ordem e progresso na minha região”, relatou.
A moradora também detalhou a repressão contra moradores, com fuzis apontados para eles, pedindo que saiam de suas casas. “[Eles dizem] Vai para fora porque vocês não têm direito a nada. [E me pergunto] Onde mora a justiça nesse país? A casa de pais de família derrubada, uma mãe dormindo na rua com seus filhos”, questionou. “Hoje eu tenho esperança. Eu quero a revisão do laudo antropológico”, cobrou.
Mais denúncias
“É humilhante. O desprezo que provoca a revolta de vocês é a mesma que nos indigna. Viemos aqui para sentir a dor que vocês sentem. Não estamos aqui porque somos bonzinhos ou parceiros, sofremos a mesma humilhação. Quando colocam um fuzil na cabeça de uma mulher, é como se estivessem colocando na cabeça da minha mãe”, afirmou o senador Plínio Valério, ao ouvir os relatos de moradores.
O prefeito de São Félix do Xingu, João Cleber de Souza, denunciou que ONGs produzem laudos antropológicos, entram na Funai e grandes extensões de terra se tornam áreas indígenas.
“É muito fácil criar terras indígenas hoje. Aqui [no município], temos 51% de área indígena e 22% de reservas. Mesmo assim, temos o maior rebanho bovino per capita do Brasil; aqui tem muito trabalhador”, afirmou.
O presidente da Associação Vale do Cedro, Vicente Paulo, clamou por verdade.
“Não queremos que tirem os povos indígenas de suas terras. Queremos justiça e representamos mais de 2 mil famílias”, clamou.
José da Silva, representante da Associação Aprimiba, denunciou que todos os moradores, sem distinção, estão sendo tratados como bandidos, atendendo a interesses escusos, que não representam os interesses dos brasileiros.
“São interesses de ONGs que estão aqui para destruir. Tenho 66 anos, e esse vai ser o meu legado? A Amazônia é dos brasileiros e não pode servir a interesses internacionais, estão engessando o povo da região. Apyterewa é muito grande, não somos contra os povos indígenas”, disse.
A produtora agrícola Abadia Aparecida Mendonça também lamentou a situação em que os agricultores estão sendo tratados.
“Nós estamos sendo tratados como bandidos, sendo que estamos vivendo há mais de 30 anos. Eu quero pedir que olhem por nós, pois os hectares dos índios estão lá, estamos lutando pelo nosso. Não somos invasores; quem é invasor é a Funai, quando eles chegaram, já estávamos lá”, relatou.
Indígenas também acompanharam a diligência e acusaram a Funai de promover conflitos entre indígenas e colonos. Karê Parakanã, da comunidade Parakanã, entregou uma garrafa de água barrenta ao presidente da CPI como prova de que os indígenas não têm água potável e vivem “abandonados”.
“Nós precisamos de estrutura dentro da nossa comunidade, precisamos de água potável, escola para as nossas crianças, saúde para todos nós. Estou aqui para falar da nossa realidade”, disse ao presidente.
Na oportunidade, o senador Plínio Valério questionou se as comunidades indígenas são a favor da expulsão de colonos, e ele relatou que não são favoráveis a nenhuma expulsão, afirmando que há espaço para todos na região.
Awaté Parakanã, da comunidade Parakanã, também pediu liberdade para trabalhar em suas terras.
“[Aqui] não entra projeto, não entra estrada, precisamos de médicos. Nesse momento o pessoal está em Dubai, enquanto estamos aqui”, disse.
O representante da comunidade também pediu independência e acesso direto aos recursos destinados às ONGs. “Chega de mandar dinheiro para a Funai, para as ONGs, mandem para nós, queremos desenvolver. Tem que acabar com essa ideia de que os indígenas são contra os colonos”, disse.
Ao encerrar os trabalhos da diligência, o senador criticou a atuação de ONGs na região.
“O preço que exigem para cuidar da Amazônia é a nossa pobreza e a nossa miséria, enquanto as ONGs dominam a região. Covardes, em nome de um mandado da justiça, praticam a injustiça o tempo todo. São hipócritas. Estamos aqui com vocês, e esses hipócritas estão em Dubai falando em nosso nome. São jatos indo para Dubai, e nós é que somos culpados, Apyterewa é culpada. O recado é: vocês não estão sós, a dor de vocês é a nossa dor e nós vamos levar adiante a dor que vocês estão sentindo”, afirmou Plínio Valério.
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Assessoria Sen. P V
