Plataforma Ancestralidades trata de racismo ambiental e justiça climática em seminário e premia pesquisas de negros e indígenas sobre o tema
Ao longo de um dia de programação, ativistas, filósofos, sociólogos, jornalistas, arquitetos e museólogos indígenas e negros participam de reflexões sobre desafios ambientais e raciais. Haverá, ainda, a premiação dos selecionados do Programa Ancestralidades de Valorização à Pesquisa 2024 – Meio Ambiente e Raça, entregue pela escritora Ana Maria Gonçalves e a filósofa Sueli Carneiro, seguido de pocket show da cantora Kaê Guajajara. A programação também poderá ser acompanhada on-line.
O tema do racismo ambiental recebe um olhar ampliado e de especialistas no seminário Ancestralidades: desafios ambientais e raciais, que a plataforma Ancestralidades, criado em parceria do Itaú Cultural (IC) e Fundação Tide Setubal, realiza a partir das 15h da terça-feira, 12 de novembro, no IC. O encontro aborda questões como a luta por justiça climática e a exposição desigual de povos originários e comunidades tradicionais às degradações do meio ambiente. Ainda, nesse dia serão premiadas as 12 pesquisas acadêmicas de pessoas negras e indígenas de nove estados do país, selecionadas no Programa Ancestralidades de Valorização à Pesquisa – Meio Ambiente e Raça, chamamento da plataforma sobre o assunto.
Como todas as atividades do Itaú Cultural, os ingressos são gratuitos e podem ser reservados a partir do dia 6 de novembro (quarta-feira), às 12h, na plataforma INTI, com acesso pelo site (www.itaucultural.org.br). A programação conta, ainda, com transmissão ao vivo pelo YouTube do Itaú Cultural (www.youtube.com/itaucultural). O endereço da plataforma é www.ancestralidades.org.br.
O seminário abre às 15h, tendo como mestre de cerimônias a cantora, produtora, MC e educadora baiana Mana Bella. Na sequência, o público acompanha a primeira mesa do encontro: Os desafios ambientais e a luta por justiça climática: perspectivas ancestrais por igualdade e sustentabilidade.
Estarão em pauta durante a atividade a revisão estrutural das relações de poder e a reparação histórica das populações negras e indígenas, como premissa da justiça climática. Embora sejam comunidades que habitam áreas vulneráveis, como zonas costeiras e florestas, muito mais afetadas pelas mudanças climáticas, elas desempenham um papel essencial na preservação ambiental, por meio de seus conhecimentos tradicionais de práticas de sustentabilidade e respeito à natureza, mas não são reconhecidas por isso.
Participam do debate o sociólogo e ativista pernambucano Junior Aleixo, coordenador de pesquisa e dados no Centro Brasileiro de Justiça Climática (CBJC), voltado à justiça climática e equidade racial para populações negras no Brasil; João Paulo Lima Barreto, filósofo e antropólogo amazonense indígena do povo Yepamahsã (Tukano) e fundador do Centro de Medicina Indígena Bahserikowi; e o arquiteto e urbanista paraense Thales Miranda, que realiza pesquisas sobre cidades amazônicas, justiça ambiental, racismo e mudanças climáticas. A mediação é da jornalista paulista Tatiane Matheus, pesquisadora de justiça climática, gênero e racismo ambiental.
Novas perspectivas
A segunda mesa do seminário – Enfrentando o racismo ambiental: povos negros e indígenas em confluência para fazer mundos – começa às 17h30. A reflexão passa pelo olhar incisivo sobre essa forma de racismo, que expõe desproporcionalmente a riscos ambientais e à degradação do meio ambiente em comunidades historicamente marginalizadas, como os povos originários, comunidades tradicionais e periféricas. Sem consulta prévia ou consentimento de quem mora lá, os seus territórios são tomados por empreendimentos poluentes, como indústrias e projetos de mineração. Mantém-se uma dinâmica colonialista de exclusão e exploração.
A conversa amplia-se para a necessidade de criação de políticas públicas que assegurem a justiça ambiental e garantam o respeito aos direitos territoriais e culturais dessas comunidades como formas de enfrentamento a esta forma de racismo. A participação nos processos de decisão e equidade no acesso e no usufruto dos recursos naturais são passos importantes no trajeto para essas mudanças.
A mediação é da jornalista quilombola tocantinense Maryellen Crisóstomo, ativista dos direitos humanos quilombolas pelo pleno acesso ao território, contra a expropriação e o racismo ambiental. A conversa conta com a participação da intelectual e ativista negra Ana Sanches, atuante na Rede Antirracista Quilombação e doutoranda em Mudança Social e Participação Política na Escola de Artes Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH/USP); da museóloga Antônia Kanindé, indígena da etnia Kanindé e umas das articuladoras da Rede Indígena de Memória e Museologia Social do Brasil; e da arquiteta e urbanista paraense Taynara do Vale Gomes Pinho, que trabalha com planejamento urbano e regional, em especial sobre planejamento, projeto, regulação urbanística, sustentabilidade e desenvolvimento urbano.
Celebração
A programação tem continuidade às 19h30, com a participação de Jader Rosa, superintendente do Itaú Cultural, e Mariana Almeida, diretora executiva da Fundação Tide Setubal, instituições parceiras que conduzem a Plataforma Ancestralidades. Na sequência, o palco passa para a escritora Ana Maria Gonçalves e a filósofa Sueli Carneiro – ambas conselheiras da plataforma –, para a entrega dos prêmios às pessoas contempladas nas duas categorias do Programa Ancestralidades de Valorização à Pesquisa – Meio Ambiente e Raça, lançado em abril pela plataforma. A cantora e compositora maranhense Kaê Guajajara fecha a programação com um pocket show.
Direcionado especificamente a pessoas pretas, pardas e indígenas, o chamamento selecionou projetos ligados à ideia do bem viver em territórios urbanos e rurais, diante dos efeitos e impactos das mudanças climáticas, e de enfrentamento às práticas de racismo no Brasil. Foram selecionadas 12 pesquisas de nove estados, nas categorias Em Andamento e Concluída.
Na primeira, cujo prêmio será entregue por Ana Maria, foram sete contemplados:
- Travessias, Etnometodologia e afroinformação: Por experiências de felicidade na educação infantil, de Fatima Santana Santos (BA);
- O trabalho das mulheres pescadoras da Amazônia: identidade, empoderamento e resistências da colônia de pescadores Z-41, município de Ipixuna (AM), de Suane do Nascimento Saraiva (RO);
- Produzir soberania alimentar está para além do plantar: a experiência do centro de integração na serra da Misericórdia/RJ na promoção de soberania e justiças na favela terra prometida, de Karina de Paula Carvalho (RJ);
- Você está em território Akroá Gamella: história oral da resistência de um povo indígena “extinto” do Maranhão, de Paulo Jeremias Aires (SP);
- Da carne da Terra se faz a cerâmica, de Sileusa Natalina Menezes Monteiro (AM);
- Pensar e bem-viver na Caatinga: Quando plantas, bichos e pessoas falam, de Tereza Raquel Arraes Alves Rocha (PE);
- Racismo ambiental e saneamento básico na região metropolitana de Goiânia, de Caiene Reinier Freitas Alvarenga (GO)
Já a categoria Pesquisa Concluída contou com cinco projetos premiados, os quais serão entregues por Sueli. São eles:
- TENEGRES – Territórios Negros e as Escolas: descobrindo o lado norte de São Paulo (Brasilândia), de Giselly Barros Rodrigues (SP);
- Habitar as águas: uma abordagem por outras epistemologias de existência, de Lucas Bispo dos Santos Castro (BA);
- Marcha das Mulheres Negras Amazônidas: dimensões interseccionais na comunicação ativista em tempos de pandemia, de Flávia Andrea Sepeda Ribeiro (PA);
- Histórias de Ojepotá: traduções de memória viva Mbya Guarani em desenhos, de Samuel de Souza (SC);
- Mulheres quilombolas e o Rio São Francisco: entre vida e morte, de Maísa Joventino dos Santos (AL).
Após a entrega, a cantora e compositora indígena maranhense Kaê Guajajara fecha a programação com um pocket show. Representante da Música Popular Originária (MPO), a artista apresenta cantos e sonoridades com influências de ritmos ancestrais indígenas e traz à tona assuntos de importância político-social, no intuito de educar, conscientizar e convidar os seus ouvintes.
Plataforma Ancestralidades
A proposta desta plataforma (ancestralidades.org.br) é difundir, gerar intercâmbios e potencializar diversos conteúdos sobre a temática que dá nome ao projeto. Ela é composta pelos eixos temáticos Arte e Cultura, Democracia e Direitos Humanos, Religiosidade e Espiritualidade e Ciência e Tecnologia. Por meio de navegação amigável, disponibiliza, para consultas, verbetes sobre as raízes afro-brasileiras em um acervo que será acrescido ao longo do tempo.
Com a proposta de formar e criar repertórios sobre o assunto, apresenta biografias e trajetórias de personalidades negras e suas histórias, listagem dos marcos históricos desde o início do século XVI e conceitos sobre o tema, como raça, gênero, quilombo, afrofuturismo, entre outros, assim como espaços para cursos.
SERVIÇO
Seminário Ancestralidades: desafios ambientais e raciais
Dia 12 de novembro (terça-feira), das 15h às 22h
Na Sala Itaú Cultural (Piso Térreo)
Capacidade: 224 lugares
Classificação indicativa: Livre
Duração: 90 minutos
Entrada gratuita. Reservas de ingressos na quarta-feira da semana anterior à apresentação, a partir das 12h, na plataforma INTI – acesso pelo site do Itaú Cultural www.itaucultural.org.br
Transmissão ao vivo pelo YouTube do Itaú Cultural www.youtube.com/itaucultural
PROTOCOLOS:
– É necessário apresentar o QR Code do ingresso na entrada da atividade até 10 minutos antes do seu início. Após esse período, o ingresso será invalidado e disponibilizado na bilheteria.
– Se os ingressos estiverem esgotados, uma fila de espera presencial começará a ser formada 1 hora antes da atividade. Caso ocorra alguma desistência, os lugares vagos serão ocupados por ordem de chegada.
– O mezanino é liberado mediante ocupação total do piso térreo.
– A bilheteria presencial abre uma hora antes do evento começar.
– Devolução de ingresso:
Até duas horas antes do início da atividade, é possível cancelar o ingresso diretamente na página da INTI, assim outra pessoa poderá utilizá-lo. Na área do usuário, selecione a opção “Minhas compras” no menu lateral, escolha o evento e solicite o cancelamento no botão disponível.
– Programação sujeita a cancelamento:
O Itaú Cultural informa que sua programação poderá ser cancelada em virtude de questões extraordinárias. Nesse caso, os ingressos adquiridos perdem a validade. O público que reservou o ingresso será notificado por e-mail. Um eventual reagendamento da programação ficará a exclusivo critério do IC, de acordo com a disponibilidade de agendas, sem preferência para quem adquiriu os ingressos anteriormente.
Itaú Cultural